domingo, 31 de janeiro de 2010

Minha vida em caixas


Nossa vida cabe em caixas. Pensei assim quando comecei a empacotar minhas coisas para preservá-las da reforma do meu quarto. Fui por horas pegando as coisas uma a uma, sentindo-as, lembrando-as, jogando-as na caixa. Bilhetes de cinema, cartas de amigos, souvenirs, presentinhos, pelúcias todas dadas pelos meus amigos. Meus livros... tantos que comprei na ânsia de ter tempo e que agora levam poeira e não representam mais a opulência de seus autores. Meus CDs, DVD’s... Tudo é meio novo, tem coisas que nem imaginava encontrar de tão apagados de minha memória. Rabiscos, traços desalinhados no meu pensamento.
Muitas coisas são aparentemente inúteis, mas não dá para jogá-las fora não. Sim, é certo que a lembrança está lá e não se apagará tão fácil, por mais que mal traceje. Mas o objeto nos força mais a memória, aviva-nos o passado que sempre nos parece melhor e que cuja imagem ainda melhora com os anos. Odeio as traves da nostalgia em meus olhos, mas é bem o que acontece.
Coisas tão pequenas, tão baratas, tão singelas e me põem assim nessa saudade, nessa ânsia desenfreada por lembranças, cheiros, sensações...
A maioria do que tenho de guardar nas caixas são presentes e presentes são objetos que têm nome e que trazem consigo toda uma carga rememorativa. Alguns presentes se foram, outros casaram, tiveram filhos e a vida se encarregou de afastar de mim. Outros, ainda, nem falam mais comigo. Alguns presentes eu guardei só na memória, outros moram comigo, vivem comigo, saem comigo... Muitos deles eu amo, outros eu já amei e não me importa que já não amo, o que importa é que já foi amor.
E quando já estava tudo embalado, Fugi um pouco de mim e por vários minutos (incontáveis, eu diria) minha vida se reduziu a coisas, a meras coisas...
Com o quarto reformado e com a minha vida voltando às estantes, mesinhas, cantos de parede, a atmosfera dos desencontros da vida e dos objetos ainda reina sobre mim. As coisas têm uma áurea mágica. Um antigo professor meu diria que essa áurea se chama relações de produção... Ter se tornado um marxista desiludido deixou-o pouco poético.
Sim, minha vida coube perfeitamente em caixas, em três grandes caixas de papelão, jogadas a esmo no canto da sala. E aquilo me pôs pensativa por dias... É... talvez a vida não caiba em caixas. Da próxima vez, peço um container gigantesco ou então guardo minha vida tão somente em mim.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre quase todo mundo


Quase todas as mulheres querem o mesmo: beijos, atenção, alguém com quem dividir os maiores problemas e as coisas ridiculamente pequenas do dia-a-dia.
Alguém. Ter com quem assistir a um filme no domingo chuvoso. Alguém com quem rir das comédias... Alguém para fazer cafuné.
Não importa quantos diplomas ela tenha e em quantas línguas elas sabem afirmar categoricamente que é mentira tudo que escrevo aqui, as mulheres ainda precisam de alguém para conversar bobagens e coisas relevantes. Para falar sobre física quântica ou de como está gostoso o petisco do bar.
Também não importa se ela tem filhos. Amor de filho, já diria minha mãe, não substitui o calor de um outro amor carnal. Não importa o quanto elas trabalhem e afirmem que não têm tempo para pensar nessas coisas, elas estão pensando nessas coisas sim, no elevador, vendo a novela, enquanto almoçam, no Natal, Carnaval... Sim, elas pensam... e como pensam!
Todas sonham com os amores de uma comédia romântica. Um mocinho divertido que aparece do nada e renova suas vidas. Nem todas, é verdade. Algumas (acreditam que) já encontraram seus mocinhos por aí.
Todas sentem falta de abraços, de beijos de televisão e até das brigas infundadas cuja melhor parte é a reconciliação.
Não, não adianta baterem o pé, mulheres não são auto-suficientes. Sim, elas precisam de alguém para abrir o vidro de azeitona mesmo que elas consigam abrir sozinhas.
Talvez seja esta uma visão superficial dos fatos e de seres tão complexos quanto as mulheres, talvez seja aquela visão deturpada e excessivamente romântica... Ou quem sabe seja o óbvio.