quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

20 coisas que eu aprendi (em 2010)

O post abaixo é o mesmo postado no final do ano de 2009. Porém como no final do ano de 2010 ele ainda é bem atual e as coisas que eu aprendi no ano passado, reaprendi este ano, achei interessante repostá-lo. Desculpe a falta de criatividade ao repetir o post.

1. Aprendi que algumas coisas têm sua hora e é preciso esperar pacientemente.
2. Aprendi que dinheiro não compra tudo, mas pagou as festas e shows que fui esse ano.
3. Aprendi que mudar pode ser bom.
4. Aprendi que para pintar uma casa é preciso antes forrar o chão com jornal (ou passar horas esfregando querosene no chão)
5. Aprendi que se pode sentir saudades de quem está perto.
6. Aprendi que erros ensinam bem mais que acertos.
7. Aprendi que algumas pessoas passam rápido demais por nossas vidas.
8. Aprendi que ser machucado por alguém dói menos do que se machucar sozinho.
9. Aprendi que você pode ter tudo que sonhou ter quando tinha 15 anos e chegar aos 23 achando que ainda falta muita coisa e que outras são besteiras ou não valem a pena...
10. Aprendi que ter emprego é bom, mas que férias são ainda melhores.
11. Aprendi que, em alguns casos, ganha mais que não responde a uma ofensa.
12. Aprendi que um bom filme pode ser melhor que várias sessões de terapia.
13. Aprendi que alguns "Eu vou", "eu posso", "eu consigo" abrem portas.
14. Aprendi que ser independente pode ser bom, mas tem seu preço.
15. Aprendi que para ser amigo de alguém é preciso aceitar e amar ainda que o outro erre.
16. Aprendi que beijar as pessoas que você gosta te dá uma energia extra pra enfrentar a vida.
17. Aprendi que é preciso dizer "não" e é preciso saber ouvir "não"
18. Aprendi que você não é o que os outros dizem, nem o que você diz ser
19. Aprendi que para se aprender é preciso 10% de material e 90% de vontade.
20. Aprendi que gastar tempo me preocupando faz com que eu perca o tempo que tenho para ser feliz.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Do deleite natalino*


* Esse é um desabafo. Se não estiver a fim de ler. Pare agora.

Me perdoem os otimistas de plantão, os amigos que já não suportam meu pessimismo, meu ceticismo e meu jeito tosco de encarar as coisas imutáveis da vida.
Me perdoem os que sempre esperam a bonanza mesmo num barquinho fudido em meio à tempestade. Perdão à turma do tudo bem, aos felizes pra sempre, aos "de boa"... Perdoem, mas eu odeio esse clima de fim de ano.
E não, não é trauma de infância ou uma tentiva frustrada de parecer um daqueles velhos chatos à la Woody Allen... Não, é um sentimento antigo de vazio. É... Vazio.
Não tente me convencer do contrário: o Natal é, e sempre será, ruim! Mas eu insisto em fazê-lo melhorar e sim, esse é o meu mais terrível mal: Melhorar o imelhorável.
Não é bom as pessoas te cumprimentarem quando passam os outros 360 e poucos dias sem fazer o mesmo. Não é bom aquele falso clima de fraternidade. Aquele pensar nos milhares de mortos de fome espalhados pelo mundo bem na hora da bela e farta ceia.
É sempre a mesma coisa. Eu participo de todo amigo secreto idiota que me convidam mesmo que eu seja indiferente a quase metade dos participante e deteste os demais... Todo ano eu estou lá, entregando presente, ganhando presente e pensando "poxa, que grandessíssima MERDA". Todo ano (eu digo TODO SANTO ANO) é o mesmo: Lá vou eu pensar em festa pra me animar. Se não gasto dinheiro e a festa não sai como eu quero, eu me frustro. Se eu gasto horrores (que é o que eu tenho feito) e a festa não não sai como eu quero (o que sempre acontece), eu me frusto e penso como seria torrar toda essa grana em alguma coisa para mim. (Esse ano eu nem vou comprar meu Nintendo Wii... Merda!).
Eu compro presentes para as crianças e faço aquela cena sobre o Papai Noel:
"Olha, o que o Papai Noel deixou na árvore de natal!"
E lá vou eu pôr meu suor pra inculcar nos inocentes a porra do espírito natalino... Espírito natalino caro do cacete!
Fora aquelas ruas com gente a dar com pau entrando e sainda das lojas em que você entra... Ai, meu deus! Lá vem aquela versão tosca da Simone tocando em tudo que é lugar. Jesus tem piedade!
"Jesus nasceu", você pode dizer. E eu te respondo que não acredito em Deus, quanto mais em filho dele. E então?
Mas todo ano eu faço festa, todo ano eu enfeito aquela porra de árvore cara com enfeites e dou presente a meio mundo, pra quê? Va-zio...
Merda!
Mas eu sempre faço... Acho que é um deleite masoquista isso, viu? Ou a esperança vã de ser arrebatada por um sentimento bom.
Não sei. Mas se quer saber, te peço uma coisa: Se quer me presentear nesse Natal, amarra tua falsidade e vai ficar feliz lá na casa do cacete!


Não entendeu? Lê isso aqui

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Estribilho


“Traição não tem justificativa, Marta” – disse a amiga sentada confortavelmente na poltrona da sala, com um cigarro frouxo entre os dedos.
Marta manteve-se de pé por um tempo, as mãos seguravam firmemente os braços opostos. Deu alguns passos à frente e disse enquanto enchia mais uma vez a taça da amiga:
- Você pode me julgar se não conhece nem entende meus motivos.
- Ora, Marta. Não tente se convencer de que não está errada por pensar assim. Não há justificativa! – a amiga disse isso enquanto apagava o cigarro no cinzeiro.
Marta voltou à posição anterior, mas dessa vez virou em direção à janela. Olhando para fora, disse:
- Você não entende o que sente uma mulher nessa situação e tudo o que...
- E como seria, Marta, se todas as mulheres fossem trair seu maridos por carência, insegurança, medo, seja lá o sentimento que for? Não tem justificativa, Marta... Não tem.
Marta caminhou mais uma vez até a amiga, pegou um de seus cigarros e o acendendo disse:
- Realmente, não há justificativa.

sábado, 30 de outubro de 2010

Do que [não] se pode escapar


Adrastea e Medardo olhavam abraçados para o mar. Ele iria velejar pelo mar Egeu e ela ia ao porto apenas se despedir do marido. A hora da viagem chegou e Medardo abraçou a mulher e lhe deu as costas partindo rumo à nau. Enquanto Medardo caminhava Adrastea teve uma terrível premonição: O marido enfrentaria uma forte tormenta que mataria metade de sua tripulação. Ele também morreria. Ela viu o sofrimento do marido morrendo afogado e não pôde deixar de se sufocar e sair rapidamente do devaneio. O esposo, que decidira lançar mais um olhar de despedida à mulher, percebeu sua perturbação e perguntou o que se passava.
A mulher lhe sorriu e disse apenas:
- Bons presságios, meu querido. Bons presságios...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Teu


Seu Arnaldo era um velho professor aposentado que morava sozinho em um bairro classe média, numa casa de três quartos, dois deles ocupados apenas por seus livros. Era muito conhecido no bairro onde morava. Sempre com um sorriso no rosto, tinha em apenas três anos conquistado bons amigos, desde o padeiro que sempre lhe entregava dois pães a mais e errava (sempre para mais) o peso da manteiga até a mulher da feira que lhe separava sempre as melhores frutas e verduras.
Parecia sempre feliz, cumprimentava a todos, andava sempre com os bolsos carregados de doces que gentilmente servia às crianças da rua que sempre corriam para ele quando o viam.
Nunca era convidado para as festas mais animadas, mas sempre lhe levavam alguns salgadinhos e docinhos embalados com primor.
Ninguém tinha queixa alguma sobre ele. Pelo contrário. Todos falavam muito bem e faziam de tudo para agradá-lo já que ele era conhecido por ser prestativo aos da comunidade.
Pelo menos quatro vezes na semana, jantava fora, sempre sozinho. Comia triste. A feição só mudava quando o garçom se aproximava ou um passante conhecido o cumprimentava. O restante do tempo era tristeza e o garçom, se fosse mais atento, perceberia o desgosto do velho se não se preocupasse tanto com a gorda gorjeta que ele lhe daria ao sair do restaurante por um serviço tão mal-prestado: três sorrisos e uns “mais alguma coisa?”.
Costumava caminhar e contemplar a rua, cumprimentando todos que via. Abria um sorriso para espantar a solidão do peito. Mesmo lhe sorrindo, a solidão não lhe dava trégua e martelava seu peito com a dor imensa que latejava muito pior quando estava em casa, sozinho entre seus livros.
Lia muito, caçava novos autores e se decepcionava com eles. Voltava aos clássicos, se enfadava. Corria para um romance besta, vulgar. Às vezes tinha a leitura interrompida pela vizinha Margot que lhe trazia sempre algum pedaço de bolo recém-preparado.
Parecia feliz, mas não o era.
Imaginem como não foi para o bairro saber que seu Arnaldo, em uma noite de sábado, lançou contra a boca um tiro de revolver e foi encontrado com uma velha fotografia e um pequeno bilhete entre as mãos:
“Bela Quitéria,
espero que tua espera não tenha te frustrado tanto. Eu que nunca tive coragem de te amar em vida, eu que nunca pude te raptar dos braços de teu marido, eu que não pude te livrar da morte fui tarde, mas agora te encontrarei no céu. Deus não há de me negar tua mão. Guarda para mim teu melhor sorriso
Teu amado,
Arnaldo”

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sobre a morte*


Não há palavras que me consolem diante da morte, essa fria e indesejada sombra. Não há. Eu jamais poderei aceitá-la a não ser que seja eu o corpo morto, inerte. Assim, eu terei de me acostumar a ideia.
Eu não gosto de pensar sobre ela, de falar sobre ela, de saber sobre ela. Mas dela não se pode fugir, não se pode escapar. Todos nós passaremos por ela. Ela ganhará de cada um de nós e nesse jogo ela sempre será mais forte.
Até lá, eu não me conformo.
Não me conformo porque ela insiste em levar os parentes, os amigos... quem sabe não me levará os amores. Não me conforto. E nenhum “Deus quis assim” vai me confortar. Se Deus quer meu sofrimento, pouco tenho a ver com ele. É inaceitável a ideia de um ser que mate sua própria criação consciente ou que a apavore com as incertezas do pós-morte...
Eu, definitivamente, não a aceito.
Nenhuma ideia de “lugar melhor” me consola. A ideia do esquecimento, do “se acostumar a dor”... todas são em vão. As lágrimas secam, é certo, mas o sentimento volta e revira nossas cabeças. E eu não me acostumo.
O fim é certo, eu sei. Mas morrer não deve ser lá boa coisa se priva aquele que ama de viver entre os seus.

Nem gosto de postar poemas, mas esse é especial:

“Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.”


(Se eu morrer, Pablo Neruda)

* Post dedicado a minha dor em relação a súbita retirada de meu pai e de meu amigo Dudu Queiroga do convívio dos seus.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Adapte-me ao seu 'Ne me quitte pas"


Era tarde de sábado. Sábado nublado, ventava pouco. Pela casa a voz do Caetano se arrastava... Toshiro lia um livro sentado na poltrona despreocupadamente.
Abri a janela para ouvir o som da rua. O barulho dos carros, das pessoas me entorpeceu. Lancei o olhar mais contemplativo que tinha para os ares de fora.
Toshiro fechou o livro que lia. Levantou-se de uma só vez da poltrona na qual se mantivera por horas com o livro entre as mãos. Foi até mim com os passos de quem acabara de acordar e arrastava os chinelos pelo chão do quarto.
Foi até a janela, colocando os braços (assim como eu) no alpendre. Olhou para fora, depois para mim e mais uma vez olhou para fora. Sorriu despretensiosamente, sem mostrar os dentes. Sorriu em pensamentos e a boca apenas seguiu o movimento. Ficou comigo ali em silêncio por um precioso tempo. E seu silêncio foi, sem dúvida, o gesto mais condescendente dele e aquele, o dia mais feliz da minha vida.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o fim


Acabaram os argumentos.
Devanear sobre o nada é o que me resta. Pintar os fantasmas. Viver das aparências alheias. Fantasiar a boa vida que eu não tive.
Acabou a guerra.
Tanta batalha perdida em vão, tantas baixas... Tantos soldados tão jovens tendo seus sorrisos apagados por tantas lembranças tristes. E eu, eu mais morta do que todos eles.
Acabou o dia.
A escuridão está sob os meus pés... Sinto o calor do sol abandonar o céu. Não há estrelas, Mon Cher. Hoje não há estrelas no firmamento. Pinte uma para mim! Vamos! Agora! Eu ordeno!... Perdão, meu pequeno... eu não queria gritar, mas não gosto do céu desse jeito.
Acabou medo.
Não há bela rosa sem grande espinho... Não há caminho tortuoso que eu não possa atravessar. Você vem comigo, querido? Não? Acaso queres me deixar ir só? Não seja cínico, sei bem o que pensas! Vamos! Larga-me a mão que eu sei andar sozinha...
Acabou a vida.
O sol renasce mais uma vez. Estou prestes a desacordar, prestes a dormir o longo sono. Estou só, não nego. Imprudência é o anagrama do meu nome agora... O sol vai me devorar o corpo, mas tantos sentimentos ruins hão de tentar me devorar o juízo antes disso. E quando eu me encontrar com Deus, direi apenas:
“Sei bem porque me abandonaste”
Acabou.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inocência



Amor, não fica assim. É só uma mente fértil de mulher entediada, de gente que não tem o que fazer e fica imaginando como seriam as coisas que não são.
Amor, não faz birra, cara feia. Olha pra mim... O que tem olhar os homens que passam quando você não está por perto?
Que mal há em não ser fiel em pensamento, se sou completamente fiel de “corpo presente”? Sim, decerto que meus olhos te traem... mas são os olhos. Parte fundamental de meu corpo. Sim... mas não a mais importante.
Vai dizer que nunca me traiu em pensamentos com aquela atriz pornô? Nunca olhou com malícia para aquela vizinha bonita?
Não sei em que você vê indecência em meus pensamentos. Eu adoro chafurdar na lama dos meus devaneios pueris...
Ora, deixa de coisa. Não vejo maldade em imaginar até padre pelado nem em pensar como seria namorar seu vizinho do 202... Imaginação de criança. Só!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Entre o palato e a língua


Muxoxo é uma espécie de estalo que se dá com a língua aplicada ao palato, em
sinal de desdém ou contrariedade.

Festa cheia. Ele tentava malabarismos entre as pessoas que se apertavam no salão a fim de não derrubar o copo com sua bebida. Quando conseguiu se desvencilhar das pessoas, viu-a. Ela sorriu. Ele deu seu primeiro muxoxo da noite.
Lembrou dela falando besteiras enquanto via a televisão no domingo. Lembrou de quando ela segurou sua mão, a mais inesperada das vezes, naquela fila de cinema quando saíram pela 2ª vez.
Outra vez levou a língua ao céu da boca e estalou um contra o outro.
Recordou dela completamente nua, esparramada pela cama e ele atônito a observá-la. Quando ela percebeu seu olhar, com vergonha, em vez de cobrir o corpo, cobriu o rosto, mas sem cobrir o largo sorriso que ele pensara ser o maior que já vira.
Rememorou os instantes dela em seu quarto vasculhando seus livros, discos, quadros, pensamentos. Lembrou-se dela devastando sua vida com as perguntas que ele não queria responder e que ela disfarçava fingindo não querer saber, mas não escondia os muxoxos que dava por não ter resposta.
Mais um muxoxo.
Lembrou-se da língua da moça, aquela que tocara a sua tantas vezes. Recordou tantas vezes foi possível os estalos que ela dava quando era contrariada e do quanto ele achava bonito o fato deles denunciarem sua frustração...
A verdade é que nunca a tocara, nem beijara ou tivera nua em sua cama. Ela não vasculhou seus livros, nem lhe fez perguntas ou apertou sua mão de modo inesperado. Ele nunca a tivera em sua vida... E foi isso que o fez dar muxoxos a noite inteira.
Tsc...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os papas e as línguas


Eu ando sem papas na língua, cuspindo cobras, com fogo nas narinas.
Eu ando falando coisas sem sentido aos berros.
Eu ando soluçando, gemendo, doendo...
Eu ando nervosa, exaltada e ninguém me segura pelos braços
Ando violenta... Xingo qualquer um que atravesse meu caminho sem pedir licença.
Falo mal de meio mundo, apontando-lhes o dedo
Jogando pedras nos telhados de vidro alheios sem me preocupar com o meu já em pedaços.
Ando praguejando contra os céus.
Acabou-se a preocupação em soar bonito, em falar direito, em omitir meus pensamentos. Vou matar os meus bandidos e ter sete anos de perdão
Eu não me preocupo mais com o que pensam. Eu não quero ser a lady que cruza as pernas ao sentar.
Eu me agarrei ao deboche e com ele beberei aos tragos qualquer gole ruim.
Passo as noites presa às ironias. Faço do cinismo meu melhor amante.
E nas madrugadas trago os charutos cuja fumaça formam as figuras bizarras da minha consciência.
E minha consciência fala, implora, pede aos prantos que eu respire fundo, que eu freie, que eu pare.
Mas o ar é curto... é da distância entre a arma e o suicida, entre as pontas dos meus dedos e as cordas do violão.
Eu não me calo. Eu não me reprimo...
Eu me deixo ir na contramão.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre o término das amizades


Deus sabe o quanto amei meus amigos. Deus sabe o quanto quis bem, mas o fim, meu único amigo, é inevitável. Não que seja meu desejo, mas normalmente o que me acontece é justamente o contrário do que espero.
O que me resta agora senão chorar as dores da minha perda?
Vestir o luto, viver o luto. Ouço a cada instante o som da ausência, o ruído da partida, o barulho do adeus. É como a morte de um bem querer... É velar um corpo em vida, que respira sem precisar de seus pulmões. É como um amor que se vai com os anos. É como o ar que insiste em nos escapar quando mais precisamos.
O que me resta a não ser isso: conformar-me?
Acender velas pela felicidade de meus mortos e esperar que eles façam agora o mesmo por mim.

Amar, meu amigo, não é nada além de perder. Amar é subtrair para quem não soube sequer somar.
Conformo-me.

domingo, 11 de julho de 2010

Sobre Lila e a bicicleta


Lá estava Lila e a bicicleta a enganar qualquer passante, iludindo qualquer um. De óculos escuros e fones de ouvido, parecendo a mulher bem resolvida que nunca foi.
Pobre do rapaz que passa e a olha com um sorriso franco pensando que ela é feliz. Coitado! Como a moça é dissimulada...
Ela canta Beatles e ri de si mesma. Ri de sua farsa, ri de sua dor, ri de quem passa e acredita que ela ri de verdade, que ela ri de alegria.
As pernas não param. Os meninos que jogam bola a olham. O camelô a olha. As crianças riem pra ela... todos iludidos! Coitados...
"Que moça feliz, decidida... Olha como ela se diverte sozinha! Um amor!"

Ah, pobre gente... não sabe que, ao guardar a bicicleta em casa, Lila nem quis saber e deixou na praça o sorriso que fingiu em vão.
Coitado de quem ainda crê naquela moça...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Abandono


Se ele me deixar amanhã
Se se for um dia sem culpa ou lágrimas,
Andarei 30 passos com a dor de um mártir,
Chorarei 30 lágrimas convertidas em sangue,
Morrerei 30 vezes em caixões de vidro,
Gritarei até acordar os mortos
Sufocada por tristes gemidos,
Em 30 dias padecerei o inferno
que qualquer um não padeceu em vida.

Tudo isso se ele for embora e me deixar como pagão no limbo...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Polissíndeto

Ah, minha vida foi feita de pieguice e de livros e de cigarros e de amores e de solidão.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ao dia 12 de junho


Ó data inventada, por que, como ventania desvairada, vens apagar as velas de meu bom senso? Por que, ó dia inglório, vens quebrantar os alicerces do meu discernimento? Porque vens me esfregar na cara a solidão até então escondida, mascarada, disfarçada em risos, sufocada por espasmos de alegria vã?
Por que não deixas em paz os jovens, pobres coitados, que se deprimem por passar por ti sem receber ou sem se dar? Esses mesmos jovens (em espírito, bem verdade) que se embrulham em vontade e apelam pela esmola de atenção para que lhes notem a fita que lhes amarram o embrulho de si mesmos.
Por que atormentá-los hoje se têm 365 dias por ano para serem torturados pelos fantasmas de sua própria solidão?
Por que não deixá-los pensar que o comércio o inventou para que eles se sentissem mal por não terem alguém com quem gastar seu mais suado soldo, seu dinheirinho encravado na carteira? Nem mesmo essa constatação faz com que eles mudem o rumo de seus pensamentos...
Pois saiba que muitas dessas pessoas irão, neste dia, cerrar os punhos e prometer para si mesmas que quando voltares no ano que vem, não as surpreenderá sozinhas e desesperançosas. Irão prometer que maior presente é se dar e se darão vestidos apenas do bom e velho amor (nem que seja amor de si ou amor escondido em mais puro desejo sexual).
Ah, dia comum em meu calendário, nem se dê ao luxo de me perturbar porque sempre que vás e volta me encontras aqui envolta em amor: amor de mim, amor dos outros... amor! Amor que não me deixa titubear, que não me deixa desistir de encontrar, enfim, em outro amor, o amor.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A devolução



- Moço, quero devolver esse homem que já não serve mais.
Veja, não reclame, não faça vista grossa nem olho torto pra essa minha nota fiscal.
Meu Deus, como pude me enganar com o embrulho e não ver o conteúdo que a capa bonita quis me esconder?
Gastei tantos centavos de juventude, tantas cédulas de alegria. Dei-me em cheque, cartão, carnê, boleto e ele me devolve em inutilidade e tanta falta de atenção.
Desculpe, moço, foi a juventude que me fez gastar tanto assim em vão.
Agora quero devolução completa e sem dano ou prejuízo. Quero minha alegria de volta, quero meu sorriso... Leve, moço, leve essa mercadoria ruim.
Você não tem aí , quem sabe, um mais velho, mais usado, talvez já devolvido? Se tiver avarias, eu conserto. Para isso arranjo tempo e disposição.
E, para minha pergunta em prosa, o moço me responde em verso:
- Desculpe, moça, mas a loja tá fechada
E não aceito mais devolução.
Ande, vá e peça a deus que lhe dê juízo
Pra não gastar tanto amor assim em vão!

domingo, 2 de maio de 2010

O dia em que voltei a mim




Num dia desses, me encontrei comigo aos 16 anos e percebemos juntas que muitas coisas fugiram ao nosso controle. Convidei-a a entrar no meu quarto para discutirmos um pouco sobre a vida, perguntar-lhe se ela estava satisfeita com o futuro. Travamos o seguinte diálogo:

Eu de agora: - Entra, pode entrar e senta onde quiser.
Eu aos 16: - Cadê o tapete onde eu gostava de sentar?
- Ficou velho e eu tive que jogar fora. Espero que não se importe...
- Não... Tudo bem, me ajeito por aqui mesmo.
- Gostou do quarto? Do seu futuro quarto?
- Você tem uma tevê só pra você e um violão e um computador!
- Como você queria e ó... comprei tudo sozinha, exceto o violão que foi a mãe que nos deu como prêmio pela aprovação no vestibular e...
- Eu vou passar?
- Sim, vai!
- Que orgulho!
(...)
- E os amigos? O que fazem hoje?
- Sabe que de alguns eu nem sei... perdi contato.
- Como isso foi acontecer?
- As pessoas crescem e tomam rumos diferentes... Gostou dos livros?
- Sim, mas poucos são de literatura
- Sim, boa parte são do meu trabalho.
- Que trabalho?
- Sou professora e mestranda em lingüística.
- O que é lingüística?
- A ciência da linguagem.
- Nossa, que chato! OOOOlha, bruxas e duendes...
- São enfeites. Sou ateísta.
- Não crê mais em Deus?
- Não.
- E é feliz?
- A felicidade não existe. A vida é feita de alegrias e tristezas... A felicidade parece um estado permanente... Isso não existe!
(...)
- Não quero isso pra mim!
- Não é tão ruim...
- Meus problemas desaparecerão?
- Não... até você chegar até mim, muitos ainda te angustiarão alguns dos quais você nem imaginou passar, mas você vai sobreviver e ser como eu.
- Não sei se quero passar por isso...
- Ninguém quer, mas é necessário.

E antes que ela partisse, eu lhe dei um ultimo afago nos cabelos. Eu não tive dó, nem medo por ela. Apenas soube que ela sobreviveria e isso, por alguns instantes, me bastou.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A metonímia


Estava lá, deitada, lençol cobrindo apenas um terço das costas nuas, cabeça apoiada sobre os braços. Ele, de pé, tateava os livros da estante. Olhavam-se... Olhavam-se e se riam.
Ela levantou o busto para melhor vê-lo. Ele a olhou, mas nada disse. Apenas sorriu e lhe deu as costas ainda distraído em vasculhar a estante.
O Jovem pegou um de seus livros e mostrou de longe a capa para a amada. Era um Schopenhauer. Ela não pôde segurar o riso e ele, vendo a reação da amada, pôs-se a rir e a balançar a cabeça fingindo ter se enganado na escolha. Pôs o livro de volta. Olhou-a mais uma vez e se riram. Ele tateou mais uma vez a estante e tirou de lá um empoeirado Drummond. Ela arqueou as sobrancelhas e se deixou cair levemente sobre os lençóis. O moço se aproximou, sentou na cama, abriu o livro e declamou:
- “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”
Ela lhe deu as costas e mostrou-se reflexiva. Os cabelos se esparramaram pela cama e pareceram rios negros tão tortuosos quanto seus pensamentos. Ele a tocou de leve o braço e beijou-lhe a têmpora.
Em casa, a mulher preparava o jantar. Um jantar sem gosto, sem sal, alecrim, pimenta do reino, alegria...
O marido chegou e ela, largando o pano de prato, abraçou-se com ele e chorando citou, sem o mínimo de culpa, qualquer coisa entre um Drummond e um Carlos de Andrade.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Diálogos entre os amantes



- Você me ama?
- Não... Por quê? Você me ama?
- Não.
E os dois não tendo amado, amaram para sempre sem saber que eram todo amor.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Top versões: "Versões para músicas de Bob Dylan"


Existem muitas versões para músicas do Bob Dylan. Inúmeras. Algumas, óbvio, melhores que outras. As listadas abaixo são versões que, na minha humilde concepção, são as mais originais e bem aranjadas.

3. Like a rolling stone - Rolling Stones

A música que falava da esnobe que acabou na sarjeta "como uma pefra rolando" ganhou essa versão da banda inglesa The Rolling Stone. Uma mega responsabilidade já que a canção foi eleita a melhor música de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Muita gente pensa que a música é dos Stones ou que a canção inspirou o nome da banda. Não se enganem: Os Stones tiraram o nome de uma música de Muddy Waters. O mesmo ocorreu com a revista. A música é bem influente, mas nem tanto...


A versão original

2. One more cup of coffee - The White Stripes


Um das mais belas canções de Dylan ganhou esta ótima versão na voz marcante e rasgada de Jack White. O resultado da criatura é bem diferente da original, mas não deixou de apresentar a qualidade do criador.


A versão original

1. It Ain't Me Babe - The Turtles

Essa foi pra lá de original! Os Turtles parecia mais uma banda que queria ganhar uma graninha indo na onda do sucesso dos Beatles. Eu disse: parecia. The Turtles era uma excelente banda e emplacou sucessos como "Happy Together", música que ganhou fama no Brasil graças a uma propaganda de carro. A banda transformou um sucesso do Dylan numa excelente baladinha.

A versão original


Calma que ainda temos as menções honrosas:
Knocking on heaven's door - Guns'n'roses

It Ain't Me Babe - June Carter e Johnny Cash

Conhece mais alguma? Posta lá no comentários!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tercetos para amores malfadados



I.
Veio com gosto de abismo
E de um velho ateu
Sorriu o pessimismo

II.
Veio travestido em luz
E em caminhada lenta
Hoje me deixa carregando a cruz

III.
E veio transbordando beijos
E minha agonia
Transformou em desejos

IV.
Veio com a cura pro meu mal
Vestiu as cores de um carnaval
Fantasiado de alegria vã

V.
Hoje eu digo com desenvoltura
melhor chorar a triste desventura
do que morrer sem mal amar ninguém.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Para não dizer nada


Eu tenho conversado com as paredes.
Sim, tenho travado longos diálogos com os cômodos da casa vazia e desesperançosa.
Tenho debatido questões sérias em tom grave com minha sobrinha recém-nascida e é tão bonito vê-la concordar comigo com o olhar.
Tenha implorado às borboletas que moram debaixo do meu travesseiro que me deixem dormir um instante que seja para descansar a vista de que eu vi de ruim durante o dia.
Tenho rezado para meus pés e mãos e feito odes inenarráveis a eles.
Tenho agradecido todos os dias aos meus braços e pernas, cabeça, joelhos e cotovelos...
Tenho brigado a sério com meu peito e batido nele com o desespero de anos que leva consigo quem guardou as palavras por uma vida inteira.
Tenho cantado aos seres inanimados na esperança de vê-los dançar comigo ou entoar uma canção que seja com o vigor de uma ópera sem nome, mas de má fama.
Tenho discutido com Deus sobre o amor, a justiça, a misericórdia, a vida, a morte, as coisas do mundo, sobre as pessoas, sobre os erros...
Tenho escrito poemas às estrelas e marchinhas de carnaval à televisão.
E tendo dito tudo a tudo, decidi não dizer nada a ninguém que me pudesse entender.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Top versões: "Versões masculinas (muito boas) para músicas Pop feminimas"


Uma nova seção para o blog: a Top versões que, como o próprio nome sugere, terá a pretensão de escolher as melhores versões/covers da música (é muita pretensão, viu?).
Mesmo que eu não goste muito de fazer post's sobre música, me veio do nada uma vontade estranha de falar sobre minhas versões favoritas. E isso é o necessário para que nasça um post...
Pois bem, sem mais delongas, aí estão:
As melhores versões masculinas para músicas Pop feminimas (na minha humilde opinião de blogueira falida e apaixonada por música).

A versão de Jamie Cullum para Don't stop the music
A música é da Rihanna, mas a versão de Jamie deu um certo glamour ao tocá-la acompanhado de seu inseparável piano.
Veja a original clicando aqui.



2º A versão do Cake para I will survive.

Interpretada originalmente pela diva Gloria Gaynor foi/é um hino da liberdade feminina (e um hino para o publico gay também). Uma música forte que ganhou uma belísima versão e um clipe hiper-power-mega machão (com direito a motorista de caminhão e tudo). Essa versão mostra que os homens também sobrevivem ao fim de relacionamentos e querem demonstrar isso através da música.
A original
A cópia


1º A versão do Franz Ferdinand para Womanizer

A original é da Britney Spears em sua volta nada triunfal ao mundo da música pop. Música fraquinha no voz fraquinha da cantora, mas uma pérola nas mãos certas...

A original

A cópia:


E então? O que acharam? Comentem.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A vaidade das folhas de papel


A folha em branco é desesperadora. O enorme espaço cor de nuvem em dia ensolarado nada lembra aqueles dias que inspiram tranqüilidade. A folha grita, esperneia, rola no chão e pede encarecida e dramaticamente por uma palavra, uma frase ou pensamento qualquer. E se irrita quando o tempo passa e ela continua a se ver sem graça e espantosamente pálida
A palavra vaidosa vai aos poucos cambaleando tímida pela página tal qual um católico bêbado em dia de missa. Olha, pausa , reflete, duvida, trepida... Ali não quer entrar, não se acha adequada, não se acha bonita... E o que posso dizer se os vernáculos têm uma auto-estima tão baixa? Nem por esse tipo de problema. Não. As palavras são apenas seres que sabem seu lugar. Que sabem onde e quando devem estar.
Então começa um balé incansável das letras. Umas vêm fácil, dançando e seduzindo quem escreve. Outras vêm sem jeito, sem gosto, sem ritmo. Outras vêm forçosamente. Não querem sair do repouso divino do cérebro. Não querem realizar as inúmeras possibilidades de ligações...
O escritor trava com estas um guerra. E vai tira-las de lá à força. Com as armas perigosas da paciência, o autor adentra o território inimigo e tira de lá o que lhe é de direito. É uma guerra sem fim, coitado...
Depois de tirar as letras, de formar palavras, de uni-las em frases e períodos que formam pensamentos, de completar por fim a pagina, nosso herói sente que exala poder. A folha, antes triste, irradia alegria por ser agora preenchida pelas palavras de alguém e se sente única, o trunfo de seu rei escritor.
O autor porém, ao reler a página, não se sente satisfeito. Como pôde escrever tantas asneiras? Como pôde usar tantas palavras que em nada combinam com as outras? Ele olha a página, acaricia o queixo, amassa a folha e a joga no lixo ao lado da mesinha. Logo prepara uma nova página e trava mais uma batalha com ela.
Pobre folha... Jogada no lixo, relembra o que foi e reflete sobre o que poderia ter sido. Porém, não se deixa abalar. Para ela, melhor se tornar lixo nas frias mãos de um poeta depois de servi-lo do que ser eterna para um escritor vulgar.
Malditas folhas! Como são vaidosas...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O tamanho da minha insignificância (ou sobre o resto do mundo)


Você já parou para pensar na sua insignificância? De quão pequeno você é? Não? Eu o faço quase sempre. Tento desvendar a importância que tem 1 em meio a 7 bilhões de indivíduos. Indivíduos que nascem e morrem a cada segundo sem nem nos darmos conta ou sentirmos falta.
Quando ando pelas ruas nessa época de festas e vejo muitas pessoas que moram na mesma cidade que eu cruzando meu caminho, paro para pensar no que elas pensam, quais seus medos, desejos, inseguranças... Não consigo vê-los como números de série. Não são seres aleatórios. São seres humanos, possuem o mesmo pensamento estruturado que eu (pensamentos diferentes, obviamente, mas estruturados de maneira mui parecida). Seres que desejam, sonham...
Da mesma forma que eu reflito sobre o fato de que estes pensamentos não me dizem respeito, cerca de 7 bilhões de pessoas fazem, inconscientemente, o mesmo sobre mim. Isto é, percebem que o pensamento alheio não lhes importa. Talvez por isso tantas pessoas queiram ser famosas e espantar de vez esse fantasma da “inexistência para o outro”.
Minha existência é importante para um número bastante limitado de pessoas das quais algumas sobreviverão heroicamente a mim no dia em que eu virar lembrança. E eu não posso (salvo raríssimas exceções) evitar que elas morram ou que elas continuem me achando importante para elas, ou que me amem mesmo que eu faça inúmeras coisas erradas. Eu simplesmente não posso mover uma palha sobre o acaso, sobre o que os humanos decidiram chamar de destino, aquela entidade que rege o que os próprios homens são incapazes de reger.
Eu sou insignificante! Assumir isso não é um pecado. A nossa insignificância é um fato. Nossa fragilidade também. Somos limitados, incapazes... Assumir isso já é um salto para fora do abismo da ilusão cavado por nossa incrível arrogância e prepotência.
No entanto (e sempre haverá um “no entanto” no fim das coisas ruins para dar-nos a impressão de que algo bom virá depois delas), o que você fará para disfarçar a sua insignificância? Caridade? Um bom projeto para salvar seu mundo? Será famoso? Será eterno? Conte-me: O que você fará?

domingo, 31 de janeiro de 2010

Minha vida em caixas


Nossa vida cabe em caixas. Pensei assim quando comecei a empacotar minhas coisas para preservá-las da reforma do meu quarto. Fui por horas pegando as coisas uma a uma, sentindo-as, lembrando-as, jogando-as na caixa. Bilhetes de cinema, cartas de amigos, souvenirs, presentinhos, pelúcias todas dadas pelos meus amigos. Meus livros... tantos que comprei na ânsia de ter tempo e que agora levam poeira e não representam mais a opulência de seus autores. Meus CDs, DVD’s... Tudo é meio novo, tem coisas que nem imaginava encontrar de tão apagados de minha memória. Rabiscos, traços desalinhados no meu pensamento.
Muitas coisas são aparentemente inúteis, mas não dá para jogá-las fora não. Sim, é certo que a lembrança está lá e não se apagará tão fácil, por mais que mal traceje. Mas o objeto nos força mais a memória, aviva-nos o passado que sempre nos parece melhor e que cuja imagem ainda melhora com os anos. Odeio as traves da nostalgia em meus olhos, mas é bem o que acontece.
Coisas tão pequenas, tão baratas, tão singelas e me põem assim nessa saudade, nessa ânsia desenfreada por lembranças, cheiros, sensações...
A maioria do que tenho de guardar nas caixas são presentes e presentes são objetos que têm nome e que trazem consigo toda uma carga rememorativa. Alguns presentes se foram, outros casaram, tiveram filhos e a vida se encarregou de afastar de mim. Outros, ainda, nem falam mais comigo. Alguns presentes eu guardei só na memória, outros moram comigo, vivem comigo, saem comigo... Muitos deles eu amo, outros eu já amei e não me importa que já não amo, o que importa é que já foi amor.
E quando já estava tudo embalado, Fugi um pouco de mim e por vários minutos (incontáveis, eu diria) minha vida se reduziu a coisas, a meras coisas...
Com o quarto reformado e com a minha vida voltando às estantes, mesinhas, cantos de parede, a atmosfera dos desencontros da vida e dos objetos ainda reina sobre mim. As coisas têm uma áurea mágica. Um antigo professor meu diria que essa áurea se chama relações de produção... Ter se tornado um marxista desiludido deixou-o pouco poético.
Sim, minha vida coube perfeitamente em caixas, em três grandes caixas de papelão, jogadas a esmo no canto da sala. E aquilo me pôs pensativa por dias... É... talvez a vida não caiba em caixas. Da próxima vez, peço um container gigantesco ou então guardo minha vida tão somente em mim.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre quase todo mundo


Quase todas as mulheres querem o mesmo: beijos, atenção, alguém com quem dividir os maiores problemas e as coisas ridiculamente pequenas do dia-a-dia.
Alguém. Ter com quem assistir a um filme no domingo chuvoso. Alguém com quem rir das comédias... Alguém para fazer cafuné.
Não importa quantos diplomas ela tenha e em quantas línguas elas sabem afirmar categoricamente que é mentira tudo que escrevo aqui, as mulheres ainda precisam de alguém para conversar bobagens e coisas relevantes. Para falar sobre física quântica ou de como está gostoso o petisco do bar.
Também não importa se ela tem filhos. Amor de filho, já diria minha mãe, não substitui o calor de um outro amor carnal. Não importa o quanto elas trabalhem e afirmem que não têm tempo para pensar nessas coisas, elas estão pensando nessas coisas sim, no elevador, vendo a novela, enquanto almoçam, no Natal, Carnaval... Sim, elas pensam... e como pensam!
Todas sonham com os amores de uma comédia romântica. Um mocinho divertido que aparece do nada e renova suas vidas. Nem todas, é verdade. Algumas (acreditam que) já encontraram seus mocinhos por aí.
Todas sentem falta de abraços, de beijos de televisão e até das brigas infundadas cuja melhor parte é a reconciliação.
Não, não adianta baterem o pé, mulheres não são auto-suficientes. Sim, elas precisam de alguém para abrir o vidro de azeitona mesmo que elas consigam abrir sozinhas.
Talvez seja esta uma visão superficial dos fatos e de seres tão complexos quanto as mulheres, talvez seja aquela visão deturpada e excessivamente romântica... Ou quem sabe seja o óbvio.