sexta-feira, 15 de junho de 2012

Andy Kaufman e o humor em tempos modernos

Lembro-me de ler uma entrevista na qual o ator e humorista Eduardo Sterblitch, o Freddy Mercury Prateado do Programa Pânico na TV ter dito que o público não sabia o que é bom ou o que é ruim, que o público não pensa e que deveria assistir à TV por ser algo mais fácil. Antes de iniciar a peça Minhas sinceras desculpas, peça da qual desistiu de continuar realizando por "culpa do público", pediu que ninguém fumasse no local para logo mais fumar pelo menos dois cigarros no palco. Engraçado e original. Na verdade não. O que acontece é que, muitos anos antes de Eduardo nascer, o comediante norte-americano Andy Kaufman fazia o mesmo quando travestido de Tony Clifton, um de seus personagens mais famosos e controversos. Não desmereço o ator brasileiro por uma mera referência (o humor vive disso, não?), mas por tantos quadros do Pânico serem tão manjados e que lembram tanto as aventuras de Kaufman no teatro e televisão. Em 2005, por exemplo, o programa de TV pôs um locutor para ler trechos de O guardador de rebanhos, de Fernando Pessoa, o que a crítica julgou como um deboche genial. Não era para tanto. Décadas antes, Kaufman lia para uma plateia ensandecida todo (TODO) o romance O grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald. Num ataque de "genialidade", o Pânico pôs uma lutadora profissional para lutar (ou bater) nos integrantes do programa. Engraçado, no final dos anos 70, Kaufman se dedicou à luta livre, lutando com (pasmem) MULHERES! O mais importante não é o que se copia no âmbito do humor no Brasil ou o que a crítica classifica como original. O importante é que se constate que boa parte desse discurso que alguns humoristas fazem como que propondo uma maior reflexão do público ou de não encarar nenhum assunto como tabu é mais velho do que se imagina. A diferença é que no passado, os bons humoristas tinham suas convicções que iam além de IBOPE ou de dinheiro (e falo isso sem o véu da nostalgia que por vezes nos cega). Andy Kaufman foi a contra-gosto para a TV norte-americana e fez de um tudo para não se manter lá (embora tenha trabalhado bastante tempo no Saturday Night Live). Propunha um humor que o público muitas vezes não entendia e que nem ele ousava explicar, apenas ria e se divertia com sua grande traquinagem. Nada era tabu para Kaufman. Ou quase nada, porque Kaufman tinha também assuntos tabus. Adepto da meditação transcendental, Kaufman em plenos anos 70, negou-se veementemente a fazer piadas com drogas em uma sitcom. A ABC, emissora com a qual tinha contrato, não aceitou os apelos de Kaufman para retirá-lo da atração. Sem papas na língua, Kaufman abriu a boca no programa (que era ao vivo) causando grande estardalhaço na emissora aos olhos do grande público que o assistia, como sempre, atônito (assista ao vídeo da cena). Kaufman era genial. Genial porque nunca abandonou suas convicções. Para ele, o mundo era uma ilusão e de uma ilusão só se poderia rir. E riu muito dele: plantou notícias falsas na mídia, contratou atores profissionais para suas "brincadeiras", mentiu para a própria família. Tudo pela diversão. O grande público acabou não achando muita graça e Kaufman, infelizmente, teve que lutar contra o ostracismo no qual era jogado. Em 1984, descobriu que possuía em tipo raro de câncer no pulmão. Ninguém acreditou: família, amigos e tampouco a imprensa. Kaufmam morreu dias depois. Até hoje, os americanos dizem que assim como Elvis, a quem ele imitava divinamente, Kaufman não morreu. Apenas fez mais uma de suas brincadeiras. Isso sim é ser genial. PS. Em 1999, Andy Kaufman ganhou uma bonita homenagem: o filme O mundo de Andy (Man on the moon), estrelado por Jim Carrey e a música homônima do R.E.M.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

C.R.A.Z.Y - Loucos de amor (Canadá, 2005)

O filme canadense "C.R.A.Z.Y - Loucos de amor" é um verdadeiro achado. Primeiro, porque encontrá-lo é tarefa das mais árduas. Segundo, porque o filme é um daqueles filmes raros, cujo o roteiro, atuações, fotografia, trilha sonora, direção estão impecáveis. "C.R.A.Z.Y" foi o indicado canadense ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2005, mas não deu para o longa naquele ano. Uma lástima. Talvez fosse mais fácil de encontrar se indicado. Baseado nas memórias do co-roteirista, C.R.A.Z.Y aborda várias temáticas, uma delas, a questão da homossexualidade, mas sem apelação, afetação ou estereótipos, com a sutileza de poucos filmes sobre o assunto. Embora, o filme trate desta questão como central, outras questões se sobressaem. O amor é mostrado como eixo norteador de todas as outras temáticas, como abuso de drogas, questões familiares etc. Amor de pai pelos filhos (mostrado lindamente pela atuação de Michel Côté, como pai de 5 filhos) e de filho pelo pai (pela interpretação magnífica de Marc-André Gondrin), um amor sem limites que, em muitas das vezes faz com que os dois ajam de modo radical. Dirigido por Jean-Marc Valée, C.R.A.Z.Y leva o expectador a viajar por pelo menos três décadas da vida de Zac Beaulieu (Marc-André Gondrin), um jovem com tendências homossexuais que desde a infância esconde suas preferências por amor ao pai. De seu nascimento nos anos 60 a adultez no final dos anos 80, o diretor nos embala com uma magnífica trilha sonora composta por canções de David Bowie, Jefferson Airplane, Charles Aznavour e pela música "Crazy", de Patsy Cline, que embala todo o filme (contam as más línguas que Valée deu parte de seu salário para pagar os custos dos direitos autorais das músicas selecionadas para o filme). Divertido, belíssimo e emocionante, C.R.A.Z.Y é, sem dúvida, um ótimo filme sobre preconceito, relações familiares e amor. Vale muito a pena assistir. Ficou curioso? Segue o trailler abaixo:

domingo, 3 de junho de 2012

Conto curto e torto.

Duas amigas conversam em meio ao caos: - Depois de tudo aquilo, fui pro mundo e deu à torto e direito. A amiga dá mais um trago no cigarro enquanto a outra completa: - Mais aos tortos que aos direitos.