sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ateísta graças a Deus


O filósofo inglês Bertrand Russel explicou em Por que não sou cristão os motivos que o levaram a não ser um seguidor da doutrina de Cristo. Eu, no entanto, não escreveria um livro sobre o tema por vários motivos. O primeiro deles é por não possuir talento o suficiente. Os outros são, quase que em sua totalidade, decorrentes do primeiro.
Eu não sou cristã. Eu não acredito em Deus, e acreditar que ele existe é pré-requisito básico para qualquer cristão. No entanto, não saio por aí aos quatro ventos gritando que ele não existe ou que os que crêem em sua existência são pobres alienados. Ser o que as pessoas chamam de ateísta não é motivo de orgulho (muito menos de vergonha) para mim. É apenas uma questão de crença ou quem sabe até de formação.
O que verdadeiramente me incomoda são as caras feias que fazem para mim todas as vezes que eu confesso meu ateísmo. Parece que tenho uma doença rara e que alguém tem o poder de curar imediatamente com versículos da Bíblia. E é nesse momento de “salvação” que eles me perguntam: “Nossa, mas você não acredita em nada? Deve ser muito ruim...” O que respondo? Na maioria das vezes eu deixo para lá. Nem sempre vale muito a pena responder qualquer coisa...
Acredito em inúmeras coisas e em outras, nem tanto. Mas no meu pequeno baú de coisas para crer ou não, Deus é uma interrogação enorme. Não posso garantir a ninguém, nem a mim mesma, que ele não existe. Mas eu acho muito pouco provável e tenho os meus motivos para pensar dessa forma. E se pensar assim pode me levar ao inferno, espero que antes que me lancem às chamas eternas me expliquem ao menos porque Deus existia e fez com que tantos homens duvidassem.
Então peço este enorme favor: Não tentem me converter. Além de ser uma tarefa inglória, na qual nós dois perderemos nosso precioso tempo, pode fazer com que eu pense que você não respeita minha crença (ou descrença, sei lá). Mas aos que não conseguirem evitar tentar me salvar da danação eterna, venham, ao menos, com bons argumentos para que possamos desfrutar de uma boa discussão. Mas cuidado! Até hoje ninguém me apresentou sequer um argumento que se sustentasse.

domingo, 5 de outubro de 2008

É mentira!!!


“Todo mundo mente, só variam os motivos”, já diz o famoso médico infectologista viciado em Vicodin que, por mais sisudo e mal-humorado que pareça, nos faz ficar vidrados na telinha toda vez que ele aparece. Mas o Dr. House estaria certo? Cada vez mais estamos certos que sim.
Um simples “sim, seu cabelo está lindo” dito para uma amiga que acabou de cortá-los e você acha que ficou um horror é sim uma mentira, por mais que você bata o pezinho e diga compulsivamente que não.
Você nunca chegou atrasado no trabalho e disse que aconteceu um milhão de coisas que o atrasaram, quando na verdade você só queria dormir um pouco mais depois daquela festinha?
Bem, se você acha que não mente, bem vindo ao mundo dos “sem vida ou círculo social”. Nossa sociedade foi construída sobre as bases da mentira. Sem ela, nossa sociedade não se manteria de pé (ou capenga como é hoje). Se pensarmos bem, pode ser que a primeira mentira dita sobre este mundo tenha vindo de Adão quando este disse a Deus que a culpa era de Eva. Ou mesmo toda a história de Adão e Eva seja mentira! Já contaram milhares de mentiras pra você desde a mais inocente, como quando sua mãe falou pra você que os bebês eram trazidos pelas cegonhas, até as mais duras e dolorosas, como aquela sua ex-namorada que produzia urros inexplicáveis que você tanto adorava e o fazia se sentir o melhor de sua espécie, podia estar na verdade apenas fingindo para fazer você feliz. É, a vida é dura e precisamos da mentira para sermos felizes. Uma mentirinha aqui ou uma mentira catastrófica ali, é ainda uma mentira.
Proponho que todos experimentem por um dia (um dia apenas, pelo amor de Deus) falar a verdade para todas as pessoas que você conhece. Não as esconda nada. Fale o que você pensa sobre o nariz delas, seu modo de se vestir, sua personalidade, suas coisinhas e manias irritantes. Conte tudo o que você odeia nelas, ou que você gostaria de mudar se pudesse.
Muitos dos que leram isso jamais vão fazê-lo. Podem até não concordar com o fato de que todos mentem, mas certamente não querem comprovar suas teses.
Uma pesquisa americana diz que uma pessoa com vida social movimentada chega a mentir inacreditáveis 200 vezes por dia!
Minta! Preserve sua vida social, seu emprego, sua família. Mentir é saudável. Ou minta e diga que nunca irá mentir na vida, a escolha é sua.

Belo para quem?


O que é belo? O que não é belo? Mulheres bonitas são bonitas por quê? E qual é o padrão de beleza a ser seguido?


Que a mídia nos impõe padrões inatingíveis todas sabemos, mas até onde isso vai? Li uma nota certa vez que dizia que a culpa pelos altos níveis de anorexia no mundo da moda era dos estilistas homossexuais que veriam nas modelos uma espécie de “boneca Barbie” que não tiveram na infância. Eu, particularmente, achei o texto muito mais homofóbico que consciente.


Há alguns meses atrás, o megastar Bono Vox fez uma piadinha infame com Nicole Richie, modelo anoréxica, dizendo que faria uma canção para arrecadar fundos para alimentá-la. Tudo bem que o mesmo tenha afirmado que a “piadinha” teria sido feita para a mídia em geral que, segundo ele, preocupa-se mais com a vida particular das celebridades que com os problemas mundiais. Mas a obsessão excessiva pela “beleza” não seria também um problema mundial que não devia ser alvo de tais piadas?


A menina de 9 anos que quer ser loira, a de 11 que se acha gorda, a de 13 que se acha feia, a de 15 que acha que precisa de silicone. Meninas que têm a falsa idéia de que ser “rebelde” é ter IMC (índice de massa corpórea) abaixo de 18, ter um corpo esquelético e cabelo liso... Não sei, mas isso me preocupa. Não mais que as questões da fome, das guerras e de tantas outras questões, mas me preocupa. Eu me inquieto ao saber de Anas e Myas.


Um estudo realizado com 3000 mulheres de 10 países revelou dados surpreendentes. Feito pela Dra. Nancy Etcoff (Universidade de Havard) e pela Dra. Susie Orbach (Escola de Economia de Londres) a pedido da DOVE , uma das maiores marcas de produtos de beleza do mundo, o estudo mostrou que 50 % das mulheres afirmam estar acima do seu peso ideal, 75% delas consideram sua beleza mediana e apenas 2% se consideram bonitas. Esse último índice é maior no Brasil (6%), o maior percentual de todos os países onde o estudo foi realizado, o que não deixa de surpreender, já que a famigerada mídia brasileira é cruel nas imposições de beleza. O que mais surpreende nisso tudo é que justo uma empresa de produtos de beleza, que muitas vezes é encarada como vilã, realizou uma pesquisa deste tipo e propôs uma campanha pela “real beleza”.


Que muitas têm o espelho, a balança e a tv como inimigos declarados todos nós sabemos, mas também temos consciência de que possuímos uma beleza toda especial. A beleza está nas“imperfeições” perfeitas (celulites, estrias, rugas) que todo mundo tem. O resto é photoshop, intervenções cirúrgicas, maquiagem... O resto é irreal, é falso...


Por isso que Bebe, minha cantora preferida, diz:


“E está cansada de jogar a toalha


E vai tirando pouco a pouco as teias de aranha


Não dormiu esta noite, mas não está cansada


Não se olhou em nenhum espelho, mas se sente tão bonita.


E colocou rímel nos cílios


Hoje gosta do seu sorriso


Não se sente uma estranha


Hoje sonha o que quer


Sem se preocupar com nada


Hoje sabe que sua vida nunca mais será um fracasso


Hoje vai descobrir que o mundo é só para você


Que ninguém pode te ferir, ninguém pode te ferir


Hoje vai compreender que o medo se pode romper com um simples não


Hoje vai rir porque seus olhos estão cansados deste pranto, deste pranto


Hoje vai conseguir rir até de você mesma e ver tudo o que você conseguiu”


(Ella, Pafuera Telarañas, Bebe)

Ao meu alter ego


Apesar de dizer que me odeia e que eu devo sair de sua vida, Marília fez uma espécie de poema para mim. Sim, queridos, agora sei que ela me ama!

Ao meu alter ego

Um dia olhei no espelho e vi uma mulher se afogando num mar de lágrimas, dor e mágoa. Entrei no espelho e segurei a mão da tal moça tentando tirá-la daquele mar de agonia. Peguei sua mão e levantei seu corpo. O maior esforço que já fizera na vida. Já não me importava com nada a não ser salvar a pobre moça. Quando seu rosto saiu da água, vi que a moça tomara minha forma. Tinha meu rosto, meu corpo, minha alma.

Ela, vendo minha surpresa, agarrou minha mão com força usando também a sua outra mão. Me afastei e relaxei a mão. Já não tinha a mesma vontade de salvá-la. Ela, percebendo isso, agarrou-se em meu braço e tentou se erguer. Não fiz nenhum esforço. Com o terror estampado no rosto que nunca havia visto antes, ela me implorou com os olhos cheios de lágrimas:
_ Salve-me! Você pode. Salve-me!

Quanto mais eu tirava minha mão da concha de dedos que ela tinha feito, mais ela me olhava, chorava e apertava minha mão. Gritava meu nome. Eu fingia não ouvir. Então, num só movimento, libertei minha mão da manopla que a aprisionava.

Ela soltou minha mão. Vi afundar lentamente. Vi o mar a engolir vorazmente, como um monstro de mil cabeças engole uma presa anêmica. Vi seu rosto afundar e a água penetrar sua boca e chegar a seus pulmões. Sim, vi seus pulmões. Vi as ondas dentro de seu corpo.

Debatia-se. E eu observava de perto sua agonia. Não senti nem dó nem remorso.

Quando sua mão começou a afundar, ouvi seu último suspiro. Fechei com força os olhos, dei as costas para o mar e parti.

Desde então, toda vez que olho no espelho, morre um pedaço de mim.

Marília Dalva