quinta-feira, 24 de junho de 2010

Abandono


Se ele me deixar amanhã
Se se for um dia sem culpa ou lágrimas,
Andarei 30 passos com a dor de um mártir,
Chorarei 30 lágrimas convertidas em sangue,
Morrerei 30 vezes em caixões de vidro,
Gritarei até acordar os mortos
Sufocada por tristes gemidos,
Em 30 dias padecerei o inferno
que qualquer um não padeceu em vida.

Tudo isso se ele for embora e me deixar como pagão no limbo...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Polissíndeto

Ah, minha vida foi feita de pieguice e de livros e de cigarros e de amores e de solidão.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ao dia 12 de junho


Ó data inventada, por que, como ventania desvairada, vens apagar as velas de meu bom senso? Por que, ó dia inglório, vens quebrantar os alicerces do meu discernimento? Porque vens me esfregar na cara a solidão até então escondida, mascarada, disfarçada em risos, sufocada por espasmos de alegria vã?
Por que não deixas em paz os jovens, pobres coitados, que se deprimem por passar por ti sem receber ou sem se dar? Esses mesmos jovens (em espírito, bem verdade) que se embrulham em vontade e apelam pela esmola de atenção para que lhes notem a fita que lhes amarram o embrulho de si mesmos.
Por que atormentá-los hoje se têm 365 dias por ano para serem torturados pelos fantasmas de sua própria solidão?
Por que não deixá-los pensar que o comércio o inventou para que eles se sentissem mal por não terem alguém com quem gastar seu mais suado soldo, seu dinheirinho encravado na carteira? Nem mesmo essa constatação faz com que eles mudem o rumo de seus pensamentos...
Pois saiba que muitas dessas pessoas irão, neste dia, cerrar os punhos e prometer para si mesmas que quando voltares no ano que vem, não as surpreenderá sozinhas e desesperançosas. Irão prometer que maior presente é se dar e se darão vestidos apenas do bom e velho amor (nem que seja amor de si ou amor escondido em mais puro desejo sexual).
Ah, dia comum em meu calendário, nem se dê ao luxo de me perturbar porque sempre que vás e volta me encontras aqui envolta em amor: amor de mim, amor dos outros... amor! Amor que não me deixa titubear, que não me deixa desistir de encontrar, enfim, em outro amor, o amor.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A devolução



- Moço, quero devolver esse homem que já não serve mais.
Veja, não reclame, não faça vista grossa nem olho torto pra essa minha nota fiscal.
Meu Deus, como pude me enganar com o embrulho e não ver o conteúdo que a capa bonita quis me esconder?
Gastei tantos centavos de juventude, tantas cédulas de alegria. Dei-me em cheque, cartão, carnê, boleto e ele me devolve em inutilidade e tanta falta de atenção.
Desculpe, moço, foi a juventude que me fez gastar tanto assim em vão.
Agora quero devolução completa e sem dano ou prejuízo. Quero minha alegria de volta, quero meu sorriso... Leve, moço, leve essa mercadoria ruim.
Você não tem aí , quem sabe, um mais velho, mais usado, talvez já devolvido? Se tiver avarias, eu conserto. Para isso arranjo tempo e disposição.
E, para minha pergunta em prosa, o moço me responde em verso:
- Desculpe, moça, mas a loja tá fechada
E não aceito mais devolução.
Ande, vá e peça a deus que lhe dê juízo
Pra não gastar tanto amor assim em vão!