quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Onde já não caibo


Eu já não caibo em conversa, em versos, em prosas. Eu me ajeito, me aperto, mas já não caibo também em risos, em músicas, em filmes B.
Nem em frases de efeito, nem em cinismo sem hora, nem na TV ligada às 4 da manhã. Eu não me encaixo em decassílabos, em redondilhas, em afinações, em tríades perfeitas. Não caibo no peito dos amigos, nem na memória dos inimigos, no bem querer de alguém. Não, eu não me acho em meu quarto, em meu espelho, em meu pensamento. Eu não me vejo em livros, em comerciais. Não me vejo nas propagandas alegres de cerveja, nem na mesa farta dos comerciais de margarina. Eu não caibo mais na minha cama, nas cadeiras da mesa, nas paredes da casa. Eu não me encaixo em sambas, boleros, tangos. Não me sinto na música clássica, nem num cochicho, nem no assobio de lavadeira... Em nenhuma canção.
Não me sinto destinatária de um riso de criança, de cartas de amor anônimas, de bilhetes não datados jogados no alpendre da minha janela. Eu já não vejo a janela, nem o alpendre, as letras das cartas, o riso.
Talvez eu não caiba mais em alegria desmedida, em Natal, Réveillon, Carnaval... Não me encaixo mais em carinhos, abraços, beijos...
E a única coisa triste de tudo isso: Eu já não caibo nos braços de minha mãe.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sim, eu a subestimei


Subestimar as pessoas para mim é um primeiro passo. Logo que eu conheço alguém, eu penso: “Não, essa pessoa não é tão legal”. Se ela for, melhor. Eu ganho. Se não, ela era como eu pensava e eu ganho novamente. Exagero ou não, é o que sempre faço e saber que algo é bem melhor do que pensei que fosse me alegra muito.
Caso semelhante aconteceu quando eu conheci a Mallu Magalhães. Um fenômeno da internet, a menina não parava de ganhar prêmios de artista revelação e tava em tudo que era programa de TV. Eu sempre pensava no que diabos as pessoas viam nela, garota insossa, sem graça... Eu não parava de compará-la à Maísa, aquela pivetinha irritante que o Silvio Santos insiste em nos empurrar goela adentro.
Afinal, quem era essa menina cantando Bob Dylan, desafinando, conquistando corações incautos?
Mas a Mallu não ficou como a menininha ganhadora de prêmios, fofinha, bonitinha, engraçadinha, inha, inha... MM mostrou a que veio.
Após iniciar um romance com Marcelo Camello, excelente compositor, Mallu mudou o rumo de sua prosa (ou de seus versos, no caso). Começou a fazer composições sobre sua iniciação na vida amorosa e sobre coisas de seu cotidiano. O tom confessional das letras e sua voz ainda infantil dão um charme as suas composições. Em Bossa sem nome, O eu - lírico parece confessar seus medos em relação ao inicio de sua vida sexual:

“Eu vou cantar pra assumir
Eu tive de fugir
Da pouca roupa, da fala rouca
Do beijo a boca
Meu bem, parece tão cruel
Não poder se atirar
Espero a espera boa
Meu corpo soa tão incapaz”


Em O preço da flor, sua voz rouca, infantil, chega aos nossos ouvidos de maneira sexy graças à melodia e à letra que fala de desejo.

“Mas escondo o desejo
Escolho no bairro
Um lugar de esconder
E vai
Mais um quase beijo
Porque só a noite cobre
Os defeitos do ser”


Talvez pela idade, a palavra sexy não pareça, à primeira vista, adequada. Mas a voz da cantora se mescla a uma melodia envolvente e letra intensa para uma adolescente de sua idade e nos chega num misto de sensualidade e inocência.
Segue abaixo, vídeo de O preço da flor.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sobre a paixão (ou sobre uma doença qualquer)



Tanta coisa já foi e há de ser dita sobre a paixão...
A palavra vem do grego pathos, da qual origina palavras como patologia, e significa sofrimento.
Os antigos gregos tentavam explicar a origem da paixão com a mitologia. Os homens ao se deparar com os deuses, cuja superioridade provocava a loucura e fazia os mortais insensatos, entravam num estado de êxtase, ou seja, apaixonavam-se.
A paixão só existia no Olimpo, a morada dos deuses. Até que Prometeu roubou o fogo sagrado das divindades para dar aos homens. Aqueles responderam a ofensa deste enviando à terra uma caixa que continha os maiores males aberta bela jovem (e mui curiosa) Pandora. Foi um excelente castigo! Mas, convenhamos, engolimos à seco a doença da paixão pela dádiva do fogo... Boa troca.
Aos momentos finais da vida de Jesus damos o nome de “Paixão de Cristo”. Para muitos o termo significa o amor do filho de Deus pelos homens, mas, em bom e velho grego, nada mais significa que dor, sofrimento, pesar de Cristo.
Para os psicanalistas, a paixão é uma projeção narcísica. Projetamos no outro o que nós gostaríamos de ter e/ou ser. E, ainda segundo eles, estamos “doentes de paixão” porque não conseguimos superar o nosso complexo de Édipo. A paixão é uma forma que encontramos de suprir a falta do nosso primeiro objeto de amor: nossa própria mãe!
Em inglês, o termo usado para “apaixonar-se” é fall in love. Numa tradução literal, algo em torno de cair em amor. A paixão é uma queda. Viram?
Ela libera dopamina, norepinefrina... Enfim, mexe com nosso corpo, mas no fim nos faz sentir muitíssimo bem.
A literatura tem ótimos exemplos de como a paixão pode ser prejudicial. Foi a paixão quem matou Romeu e Julieta, que fez com que o Jovem Wether se suicidasse. Foi a paixão quem matou Tristão e Isolda... A paixão é, praticamente, um assassino serial!
Para uns, doença. Para outros, sofrimento, queda, roteiro infeliz...
Só sei de uma coisa: Não há melhor doença, queda, sofrimento, nem melhor forma de liberar dopamina.
Adoeça. Apaixone-se hoje!