quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Limítrofe (ou poema dos corações que transbordam)

Eu fecho as contas
de todos os botecos
Paro de beber
Paro de fumar
Já não faço drama
Se você me der
Um pouquinho só
Um pouquinho só
Do que eu já te dei
Eu rastejaria
Eu imploraria
Posso até chorar
Pra que você me dê
Um pouquinho só
Um pouquinho só
Do que eu já te amei
Se quiseres, eu
Posso me humilhar
Se quiser, sangrar
Por favor, me dê...
Vou beijar tuas mãos,
Vou beijar teus pés
Vou fazer de ti
Minha nova fé
Mas por favor, me dê
Vou tirar a roupa
Vou me oferecer
Vou me humilhar
Me ajoelhar
Por favor, me dê
Um pouquinho só
Do amor que eu dei
Se não te comover
Todo meu clamor
Todo meu pavor
Se eu tiver que ir
Tudo bem, eu vou
Sem me humilhar
Sem me rastejar
Sem me oferecer
Mas lágrimas vou verter
Quando me lembrar
Que de todo amor
Que eu já te dei
Eu desperdicei
Um pouquinho só
Um pouquinho só.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ele não está tão a fim de você

“Você precisa decidir se quer transar ou namorar. Os dois ao mesmo tempo não rola”. Foi isso que ouvi de um amigo quando lamentei o fato de meus últimos relacionamentos terem sido tão breves. “Mas isso é muito machismo”, retruquei e ele respondeu:  “É machismo, mas o mundo é assim você aceitando ou não”. Contrariada aceitei. O mundo é realmente assim. E quando ambos dissemos “mundo”, estava bem claro para nós que não eram todos, mas que a maioria dos homens ainda pensava assim.
Passei quase uma semana com aquilo na cabeça. Então, se nós mulheres demonstrarmos interesse em sexo nos primeiros encontros, o cara pode correr? Bem, se o cara sumir depois disso, ele é machista e você escapou de ter um relacionamento com um cara que queria te reprimir já nas primeiras saídas, certo? Certo. Então você deveria ficar agradecida aos deuses porque eles te livraram de uma enrascada, certo? Nem tanto assim. Você sabe que o cara é machista, repressor, mas, em vez de ficar feliz por ele ter sumido, você se lamenta. E o pior se culpa.
Você se culpa por ele não ter ligado, por ter ignorado suas ligações e mensagens, por ter dado desculpas esfarrapadas, porque o erro será sempre seu: eu fiz sexo rápido demais, eu não sou boa de cama, eu não sou legal, eu não sou bonita, eu sou imbecil... É mais fácil aceitar os defeitos mais horríveis – e ridículos – do que aceitar o óbvio: Ele não está tão a fim de você. E é mais fácil aceitar que o defeito é nosso e que podemos muda-lo do que apenas comprovar o que é mais óbvio ainda: o cara é o maior babaca pau-no-c*!
É aí que penso: Tantas mulheres e sutiãs foram queimados e tantas são execradas publicamente por defender nosso direito de sermos livres e a gente aqui preocupada se deve ou não dar no primeiro, segundo ou terceiro encontro. E tanta evolução, processo civilizatório, anos de história para os caras ainda dividirem as mulheres em “para transar” e “para namorar”. Se a gente for analisar um pouquinho, parece que nem sequer chegamos aos anos 50!
Sei que nem todos os homens e mulheres pensam assim, mas os que não pensam são exceções à regra. E a gente acaba confundindo esses homens maravilhosos e raros com os babacas que mentem sobre o quanto somos especiais e mais uma vez A CULPA NÃO É NOSSA!
Daí, depois de muito pensar, formulei uma resposta ao comentário do meu amigo: se eu tiver que escolher entre ser a namorada de um cara que me reprimiu sexualmente desde o nosso primeiro encontro e ser a vadia que se diverte e se realiza, eu escolho ser uma vadia solteira e feliz.  Não vou passar uma vida inteira esperando o cara ligar, contando as saídas para ver se é hora ou não de liberar a preciosa, pensando no que ele vai achar se eu disser isso ou aquilo.
E quer um conselho? Este dou de graça: Na dúvida, dê. Se ele estiver mesmo a fim, não vai se importar. Se ele estiver a fim e mesmo assim se importar, fuja para as colinas porque ele, definitivamente, não é o cara certo para você.



sábado, 29 de março de 2014

Top três - Clipes com música boa e muita cachaça

Arctic Monkeys - Why'd you only call me when you're high

Nível alcoólico: Ligando pra namorada, passando vergonha...



 2º Slow Club - Beginners

Nível alcoólico: Bêbado chorão...
Sim, é o Harry Potter




3º Massive Attack - Live with me

Nível alcoólico: Coma.





domingo, 9 de março de 2014

Top Três - Músicas para mandar aquele amor que não deu certo pras cucuias

Quem nunca teve aquele amor que só deu trabalho que atire a primeira pedra.
Hoje, no entanto, vamos deixar as pedras de lado e vamos jogar musiquinhas para exorcizar esses demônios.

1. A primeira delas é um dos grandes sucessos gravados por Ray Charles na década de 60. Hit the road fala sobre um cafajeste implorando abrigo a sua "mantenedora", que nega e pede que ele "pegue a  estrada".

Nível de "Vá embora": Já deu, né?



2. Sucesso na voz de Gloria Gaynor, gravada em 1978, I will survive acabou se tornando um hino gay depois de ter feito parte da trilha sonora de Priscila: a rainha do deserto, de 1994.
A música, você já deve saber, trata de um fim de relacionamento em que a mulher abandonada garante que vai sobreviver sem o ex-amado.

Nível de "Vá embora": Benhê, eu sou mais forte que isso, amoooor.



3. Leave é uma das músicas que compõem a trilha sonora do filme irlandês Apenas uma vez (Once), longa esse que tinha como protagonistas a dupla Glen Hansard e Markéta Irglová, autores da canção e ganhadores do Oscar de melhor canção original de 2008 (por Falling slowly, do mesmo longa).
A música fala de um relacionamento que não deu certo e que só resta ao outro ir embora.

"Eu não posso esperar pra sempre, foi tudo o que você disse
Antes de se levantar
E você não vai me desapontar
Eu posso fazer isso sozinho
Mas eu estou feliz por você ter vindo
Agora, se você não se importa
Me deixe, me deixe"
Nível de "Vá embora": Pode ir, mas que eu vou sofrer, eu vou...





segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Aos demônios












Não sei em quais dos passos foi findar nosso balé
Eu fui teu bem-querer e você foi meu mal-me-quer.
O mesmo mal que aflige as moças de bom coração
E traz esses demônios às que pedem proteção.
O sofrimento de que não podemos mais fugir
O Karma que insiste em sempre vir nos perseguir.
Aquela dor antiga, aquela velha aflição
Senhor, afasta de mim estes maus de coração!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poema sem título (porque Ama-me seria óbvio demais)

Sempre que não houver motivos, ama-me.
Quando os motivos forem muitos, ama-me também.
Ama-me quando não houver nada melhor para fazer
E ainda mais quando estiveres tomado de trabalho e culpa.
Povoa teus pensamentos de mim ou me deixa vagar sozinha em teus devaneios.
Ama-me em teu desespero e em tua alegria.
Ama-me em teu silêncio ou ama-me pelos cotovelos, 
para mim tanto faz contanto que ame.
Ama-me quando teus passos forem arbitrários. Ama-me quando não quiseres ir trabalhar.
Ama-me quando conseguires reunir aqueles dez mil motivos para me odiar.
Ama-me no dia de teu casamento ainda que a noiva não seja eu.
Ama-me quando quiseres e ainda mais quando não te der vontade.
Ama-me em meus pecados, em nossas desavenças. Ama-me quando o mundo disser: NÃO!
Ama-me quando eu for embora e ainda mais quando eu regressar.
Ama-me com cinismo e lealdade.
Ama-me quando eu merecer e quando eu não precisar.
Ama-me apenas porque amar é bom.
Ama-me
Ou de que me valeriam os versos?
Estes que fiz com tanto amor?



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um dia na vida de todas nós

Sandra acorda cedo todos os dias. Antes de ir trabalhar, vai até a academia. Saindo de lá, ouve obscenidades de alguns transeuntes. Nessa hora, sempre repara nas roupas que veste. Seriam elas culpadas? Talvez a calça de ginástica estivesse muito justa.
Volta para casa. Toma banho. Pega o carro. Sandra é sempre muito prudente no trânsito, mas leva uma “fechada”. O motorista do outro carro, o culpado, xinga e a acusa: “Só podia ser mulher pra fazer uma m*rda dessas!”
Chega ao trabalho. Vai à reunião que espera há meses. Nesta reunião, decidirão quem será promovido. Sandra realizou um excelente trabalho e espera agora reconhecimento. Ele não vem. Um colega, bem menos capacitado, toma a vaga. Ao fim da reunião, o chefe a chama de lado e se defende: “Seu trabalho é muito bom, mas o cargo exige firmeza, não pode ter muito sentimentalismo. Não seria um cargo bom para mulher. E outra, muitas viagens. Você tem filhos”. Filhos? O colega também tinha, mas ela não respondeu.
Saiu do trabalho. Queria arejar as ideias tomando um chopp. Sentou-se sozinha no bar. Lá, um rapaz puxou uma das cadeiras de sua mesa e pôs-se a conversar. Sandra disse que não queria companhia. O garçom, vendo a cena, perguntou se Sandra precisava de mais alguma coisa e se o rapaz a estava importunando. Sandra respondeu que não e que já ia embora. Pagou a conta e antes de sair não pôde deixar de ouvir outro garçom comentar sobre ela: “Mulher sozinha em bar só pode estar procurando macho”.
Volta para casa e se sente só. Lembra-se das palavras de sua mãe sobre as muitas traições de seu ex-marido: “Conforme-se. Homem trai mesmo e não pode ter uma mulher só. Tem que ter na rua o que não pode fazer em casa. E mais, vai ficar sozinha cuidando desse menino? Que homem quer ficar com uma mulher que tem filho? Nenhum. Só vão usar você”.
Sandra não concordava. Tinha um homem sim que queria ficar com ela, mas não poderia chamá-lo para dormir com ela e afastar a solidão. A senhoria da casa onde morava a alertava já no primeiro aluguel: “Minha antiga inquilina também morava com o filho e vez ou outra trazia um macho pra dentro de casa. Não gosto de pouca vergonha aqui”.
Dormiu só.

Parece sim uma história inventada, mas Sandra é apenas uma personagem que encarna tudo que nós mulheres ouvimos todos os dias das mais variadas pessoas.