sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um dia na vida de todas nós

Sandra acorda cedo todos os dias. Antes de ir trabalhar, vai até a academia. Saindo de lá, ouve obscenidades de alguns transeuntes. Nessa hora, sempre repara nas roupas que veste. Seriam elas culpadas? Talvez a calça de ginástica estivesse muito justa.
Volta para casa. Toma banho. Pega o carro. Sandra é sempre muito prudente no trânsito, mas leva uma “fechada”. O motorista do outro carro, o culpado, xinga e a acusa: “Só podia ser mulher pra fazer uma m*rda dessas!”
Chega ao trabalho. Vai à reunião que espera há meses. Nesta reunião, decidirão quem será promovido. Sandra realizou um excelente trabalho e espera agora reconhecimento. Ele não vem. Um colega, bem menos capacitado, toma a vaga. Ao fim da reunião, o chefe a chama de lado e se defende: “Seu trabalho é muito bom, mas o cargo exige firmeza, não pode ter muito sentimentalismo. Não seria um cargo bom para mulher. E outra, muitas viagens. Você tem filhos”. Filhos? O colega também tinha, mas ela não respondeu.
Saiu do trabalho. Queria arejar as ideias tomando um chopp. Sentou-se sozinha no bar. Lá, um rapaz puxou uma das cadeiras de sua mesa e pôs-se a conversar. Sandra disse que não queria companhia. O garçom, vendo a cena, perguntou se Sandra precisava de mais alguma coisa e se o rapaz a estava importunando. Sandra respondeu que não e que já ia embora. Pagou a conta e antes de sair não pôde deixar de ouvir outro garçom comentar sobre ela: “Mulher sozinha em bar só pode estar procurando macho”.
Volta para casa e se sente só. Lembra-se das palavras de sua mãe sobre as muitas traições de seu ex-marido: “Conforme-se. Homem trai mesmo e não pode ter uma mulher só. Tem que ter na rua o que não pode fazer em casa. E mais, vai ficar sozinha cuidando desse menino? Que homem quer ficar com uma mulher que tem filho? Nenhum. Só vão usar você”.
Sandra não concordava. Tinha um homem sim que queria ficar com ela, mas não poderia chamá-lo para dormir com ela e afastar a solidão. A senhoria da casa onde morava a alertava já no primeiro aluguel: “Minha antiga inquilina também morava com o filho e vez ou outra trazia um macho pra dentro de casa. Não gosto de pouca vergonha aqui”.
Dormiu só.

Parece sim uma história inventada, mas Sandra é apenas uma personagem que encarna tudo que nós mulheres ouvimos todos os dias das mais variadas pessoas.



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O minuto

Depois de toda aquela briga
Ele a pediu apenas um minuto.
Nesse minuto, faria a mais bela cena de amor do mundo,
Falaria de amor como nenhum poeta teve coragem ou talento.
Deus riria e bendiria toda a sua criação.
O diabo, por sua vez, maldiria seu triste invento: a separação.
Suspensos no tempo e no espaço, assistiríamos ao maior espetáculo,
Roendo as ruas, acreditando, fazendo figa...
Eram apenas 60 segundos...

O minuto que ela não deu.