sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sim, eu amo carnaval


Há algum tempo, a jornalista paraibana Rachel Sheherazade ficou famosa no país inteiro por dizer odiava o carnaval. Alegou que hoje, a segregação entre os ricos e pobres é evidente devido a camarotes e abadás. Falou um monte de coisas fáceis de ser ver e foi tão elogiada que acabou por se tornar repórter em jornal de âmbito nacional.
Como eu posso dizer que ela está errada? Negaria que os cordões de isolamento não são um tipo de segregação social? Jamais! Eu acredito no que ela diz porque é óbvio.
Agora enxergar o que não é tão claro assim é que é mais difícil e nem sempre ganha a aclamação popular. Diferentemente dela, eu AMO carnaval, a festa da carne, do avesso, do mundo, do povo.
O carnaval nasceu da necessidade do povo de subverter a ordem. No carnaval quem manda é o povo! Os reis são ridicularizados, rebaixados. Rei só se for o Momo. Os nobres se mascaravam e passavam em meio à multidão que não se distinguia entre ricos e pobres, eram foliões e só.
Há camarotes dividindo as pessoas? Há. Mas quem faz o carnaval se não o povo? Quem trabalha o ano inteiro por ele? Quem desfila? Quem faz bonito? Quem sofre ou ri com o resultado? Quem senta horas numa dura arquibancada só para vibrar quando a escola do coração invade a Sapucaí? É o povo.
Há abada? Cordão de isolamento? Óbvio. Porém, em cada dia de carnaval, circulam pelo menos 20 blocos pelas ruas do Rio de Janeiro de graça e para qualquer folião. Isso apenas no Rio e em apenas um dia! Pelo país o número é tanto que nem se sabe ao certo.
Você pode acreditar que carnaval é apenas aquele que os ricos podem participar. Eu acredito em carnaval de rua, em feriado de três dias nos quais o povão pode reinar, dançar, comemorar.
Eu amo carnaval porque o povo não deixa que ele morra em sua essência. Nasceu do povo e vive por causa dele. E carnaval é feito samba: quem não gosta dele, bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé.

3 comentários:

mo.rafaella@gmail.com disse...

"O carnaval nasceu da necessidade do povo de subverter a ordem. No carnaval quem manda é o povo! Os reis são ridicularizados, rebaixados. Rei só se for o Momo." Quando você fala isso, você está falando do carnaval de Rabelais, hoje em dia realmente não é mais assim... O carnaval tem, atualmente, de irreverente o que o punk tem de anarquista. Nada. A droga do sistema político-econômico-cultural que vivemos consegue absorver tudo muito rápido e naturalmente, ao ponto de estarmos ridicularizando o nada ou coisa nenhuma, de acharmos que Cafuçu ou Brega é se vestir como antigamente, quando na verdade, culturalmente falandom ser cafuçu seria vestir Abadá de Chiclete com Banana - aquilo que a indústria de massas (governada por aqueles que deveríamos ironizar) produz. Detesto carnaval por N motivos, mas o principal deles é justamente por não ser mais o carnaval de rua que já foi. Há bem pouco tempo. Poucos dias atrás, na verdade.

Lyla, a louca disse...

Acho que você está sendo muito radical. Esse velho discurso anarquista-pós-punk-leio-Marx e blablá tira muito do encanto das coisas. O carnaval nem era de Rabelais... Era do povo, Rabelais só o traz para a literatura. Não seja tão sisuda. Se continuarmos pensando que tudo é assim, construído pelo sistema politico-capitalista-burguês-ai-meu-Deus nada vai parecer bonito. É a busca por essa carnaval "das antigas" que devemos pregar e não essa coisa do "nada será como antes", porque se formos olhar para trás, veremos que nem mesmo o que imaginamos é assim tão perfeito.

Maísa disse...

Olha só fui achar esse texto agora...pq? eu tbm amo carnaval, esse ano vi milhares de posts das pessoas dizendo o quanto não gostam da folia... Nem parece que milhares de pessoas vão atras do trio todo ano, saem nos blocos e participam de escolas de samba, o povo tá chato, parece q ta na moda ser do contra... Obrigada por esse texto, eu amoooo a folia e semre serei foliã